Artigos - História do Perdigueiro


O perdigueiro de S. António dos Capuchos, Lisboa

Ao longo dos anos para além de verificar os testemunhos sobre a multisecular existência do Perdigueiro Português que outros descreveram, temos tido a oportunidade de encontrar alguns outros que merecem ser divulgados...

No Museu Nacional do Azulejo - Convento da Madre de Deus em Lisboa, há um painel de azulejos do século XVIII que representa cenas de caça de cetraria. Caçadores a cavalo, moço de pé com rapina na luva - e junto a ele - o nosso perdigueiro...Notam-se a cabeça plana e larga, o chanfro recto e quadrado com lábio pendente, a convergência de eixos cranianos e o stop, o corpo musculado e o peito profundo.

No Convento de SºAntão-o-Novo (Hospital de S.José, Lisboa) há múltiplas cenas de caça de montaria em azulejos do século XVII-XVIII. Lá está o perdigueiro da época, cabeça larga, chanfro largo, curto e recto, olhos grandes e aflorados, o crânio plano...

No Convento de SºAntónio dos Capuchos (Hospital dos Capuchos, Lisboa) num painel de azulejos (Sécs.XVII-XVIII) há caçadores a cavalo e outros a pé, com velhas armas de fogo. Atrelados, dois cães - um de perfil, de eixos convergentes com moderado stop e chanfro recto, de lábio tapando o inferior. O outro, em dificil posição para uma correcta avaliação, mas em que se detecta o crânio largo, a chanfradura nasal, o sulco frontal largo, o chanfro largo e curto, os lábios pendentes formando ângulo agudo quando se encontram abaixo do nariz...

Mas é noutro painel e no meio de temas de caça, que se encontra a representação mais fidedigna (sobreponivel aos cães actuais) de toda a azulejaria lisboeta conhecida até ao momento. Há um cão que não oferece dúvidas:

Primeiro a sua morfologia: cabeça de eixos convergentes, crânio largo e plano, com stop bem marcado, chanfro quadrado e recto com ligeira elevação da extremidade anterior - em "borda de prato" - com lábio pendente, boleado em círculo e de comissura pregueada. O corpo é musculado e de peito profundo, as mãos são grandes, intermédias entre o gato e a lebre, a cauda é amputada…

Mas também o carácter pode ser apreciado pela figura - calmo, sentado, olhando meigamente o dono.

Não acabámos de descrever um cão actual - está em azulejo da transição dos séculos XVII-XVIII e tem «apenas» entre 200 e 300 anos...

Começam a ser bastantes os testemunhos.

E quantos não estarão ainda incógnitos?

O que podemos verificar é que uma raça básica mesmo sem uma selecção dirigida na obtenção de um determinado morfotipo poderá parecer menos homogénea à primeira vista, mas há no entanto características de marcação genética que persistem e se transmitem.

No antigo perdigueiro ibérico-português essas características não variaram, antes se mantiveram inalteradas ao longo dos tempos aquelas que são fundamentais - a convergência dos eixos crânio-faciais com um crânio plano e largo, a robustez, a resistência e a compleição física, a versatilidade, o carácter dócil e meigo, o caçar de ventos, a paragem…

Apesar de todo o tipo de impensados cruzamentos, ao de cima vieram sempre as características fundamentais da raça que couberam em herança ao seu único descendente - o Perdigueiro Português.

Jorge Rodrigues