Artigos - História do Perdigueiro


O cão perdigueiro do Palácio Fronteira - Século XVII

Prosseguindo à descoberta de imagens que ilustrem como eram os nossos perdigueiros de tempos passados comprovativas da sua multisecular existência, deparei entre a magnífica azulejaria que decora o Palácio de Fronteira em Lisboa, com a imagem de um cão cujas características morfológicas se assemelham muitíssimo às do Perdigueiro Português pelo que julgo será de interesse proceder à sua análise em termos cinotécnicos.

Situado em S. Domingos de Benfica, o palácio foi mandado construir pelo 1º Marquês de Fronteira (General da Guerra da Restauração) em 1671-1672 e sofreu melhoramentos no século XVIII. Os azulejos que os decoram são quase todos datados de seiscentos e aqueles que suportam a pintura do cão que nos interessa estão também datados do século XVII.

Se bem que o enquadramento paisagístico não seja especificamente de uma cena de caça, este cão (que acompanha o dono no campo) tem muitos aspectos curiosos.

No aspecto geral, é um cão de tamanho médio (comparar com a perna junta) e de pêlo liso. a sua posição é incaracterística (parece cheirar algo ... ) e faço notar que tem uma coleira.

Passemos agora a análise em pormenor: Na cabeça, algo volumosa, o crânio é largo e um pouco abaulado em cima, sem proeminência do occipital e de fronte elevada. As orelhas, apesar de pendentes e triangulares, parecem de inserção mediana (e não alta como no P.P.) o que poderá resultar da posição da cabeça (?) de imprecisão do artista (?), ou poderá ser intencional ... ). As faces e parótida são cheias. O chanfro é curto, recto e o stop (ângulo crânio-facial) é bem marcado, sendo o seu comprimento igual à altura. Mas o lábio superior não ultrapassa o inferior nem há prega mucosa descaída (... )

No corpo o peito é profundo (chega ao codilho), o ventre e o flanco cheios, o dorso recto (apesar de descaído para diante devido à flexão dos anteriores), o pescoço relativamente curto.

Nos membros, destaco a proporção, comprimento e obliquidade da espádua, a flexão relativamente acentuada dos posteriores e dado que não podemos ver as mãos, serve referir a forma dos pés - cheios e arredondados, intermédio entre o gato e a lebre.

Mas tão importante quanto a cabeça é a cauda - direita de média inserção, dando continuidade à garupa e pasme-se... amputada pelo meio, grossa e pendente. Tal como nos cães actuais...

Estamos pois em face de um cão com praticamente todas as características do actual Perdigueiro Português.

Relembro que de entre os cães europeus da época, nenhum tinha características que se aproximassem sequer do presente exemplar e apenas dois pequenos pormenores - a implantação das orelhas e o lábio superior menos descido poderão não ser a cópia fiel dos cães de hoje, mas isso poderá dever-se apenas à menor "fidelidade" do artista.

Julgo pois estarmos perante a representação azulejar de mais um Perdigueiro Nacional do século XVII.

Jorge Rodrigues