Artigos - História do Perdigueiro


Os perdigueiros da Índia bordados em Algodão

caça com cavalo, falcão e perdigueiro

Perdigueiros da Índia Bordados em Algodão

Divulgamos hoje “novas” imagens de uma velha raça - o perdigueiro português.

No Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa existe uma tira em algodão bordado, que tem a ver com a História deste cão-património e constitui mais um testemunho da sua passagem por vários continentes em tempos idos (é sabido que um casal de perdigueiros no século XVI chegou ao Japão a bordo da primeira nau lusa que aportou a Tanegaxima em 1543. Natural é que alguns exemplares desta raça tenham passado por terras de África, da India e de outros lugares do Oriente…

Vamos às imagens.

Trata-se de um “Trabalho indo-português em algodão bordado a algodão, do Séc.XVII - India (Bengala?) - 1932 - Inv.2126 Tec.” de acordo com a inventariação do Museu.

A tira, com cerca de três metros, é de algodão azul-cinza, bordado a branco com cenas de caça e motivos de fauna e flora que se repetem embora não sejam rigorosamente iguais. Aliás a peça apresenta não só as limitações inerentes ao bordado manual no que respeita à fidelidade da imagem que nem sempre é conseguida, como deixa transparecer a passagem de mais de trezentos anos sobre a data em que hábeis mãos luso-indianas a bordaram.

Mas mesmo assim constitui iconografia que merece ser divulgada visando a reconstituição do percurso histórico e difusão antiga deste nosso cão de caça.

Reportando-nos a uma das cenas (Fig.1) observamos que um cavaleiro (português) caça de cetraria a cavalo transportando na mão direita ave de rapina. De entre vários mamíferos e aves, destaque para uma ave (perdiz local? francolim?) que está adiante do caçador. Atrás do cavaleiro, segue um seu auxiliar (indiano?) com arma branca e que conduz, com trela enrolada na mão em várias voltas, um cão que nos interessa analisar.

Escolhemos um pormenor de uma das cenas (Fig.2). Destaca-se a cabeça de chanfro recto e mais curto que o crânio, com stop (ângulo crânio-facial) marcado. As orelhas são triangulares caídas e se bem que neste particular se apresentem de inserção muito baixa (representação irrealista para qualquer raça de cão) noutros dos cães representados (como o da figura 1) já a sua inserção é alta.

De resto, as limitações do artista e da técnica não deixam depreender muito mais - um corpo quadrado, uma linha dorsal recta-ascendente, um peito bem descido ao codilho, o ventre um pouco arregaçado, a cauda inteira, que nesse século ainda não a cortavam. Mas há os pormenores relevantes do francolim, do falcão, da cabeça do cão e da trela comprida que o segura, sendo o falcão e a trela enrolada aspectos comuns à iconografia antiga que representa fielmente o perdigueiro português de antanho.

Jorge Rodrigues