Artigos - História do Perdigueiro


Os cães-perdigueiros de pedra de Torres Vedras

Continuando a procura de imagens que confirmem de forma insuspeita a multisecularidade do cão de parar português e sobretudo, que mostrem como era o seu aspecto e a evolução que teve, de há muitos anos a esta parte, trazemos hoje a público dois cães em pedra existentes numa Quinta bastante antiga sita na região de Torres Vedras, 40 km ao norte de Lisboa.

Esta região, afirma-se assim como há séculos ligada ao perdigueiro português e área de grande importância no panorama histórico desta raça autóctone, já que a par destes elementos da nossa cultura agora divulgados, também as características de terrenos, clima e agricultura praticada nesta região Oeste do país, facilitaram desde sempre a abundância da perdiz e justificaram a utilização continuada de perdigueiros.

São dois cães um pouco degradados por anos de intempéries, já que têm estado sempre ao ar livre, encontrando-se cobertos de fungos e liquens. Um dos exemplares tem as pontas das orelhas partidas e o outro apenas a ponta do nariz, mas são, sem sombra de dúvida, dois perdigueiros portugueses.

A Quinta em questão é setecentista e muito provavelmente estes cães de pedra que decoram o jardim exterior serão do século XVII-XVIII, ou seja, terão à volta de 250 “invernos” em cima...

São ambos machos, estão sentados e cães de tamanho médio.

A cabeça tem eixos crânio-faciais convergentes e uma proporção crânio-chanfro que é a dos perdigueiros actuais (60/40%). De notar o crânio algo aplanado no plano sagital, um stop marcado, de fronte alta, o chanfro recto e direito, mais curto que o crânio, o lábio superior pendente mas não muito, boleado na ponta e com pequena comissura labial. As orelhas são de implantação alta, acima da linha dos olhos, triangulares e pendentes, de vértice bem redondo. O crânio visto de frente é quadrado, de parótida cheia. Os olhos são relativamente grandes, ovalares com tendência para arredondado e dispostos em linha horizontal. De notar que há pequena barbela e o pescoço tem comprimento médio.

O corpo é compacto, de ventre não arregaçado, mas o peito é pouco descido e algo arredondado, o que provoca ligeiro descodilhamento dos anteriores. Nos membros, há a destacar um braço musculado e saliente, vincando um pouco mais o ângulo do ombro que nos perdigueiros actuais. As mãos e pés são arredondados, o intermédio entre o gato e a lebre, com unhas fortes.

Sem dúvida que as características étnicas fundamentais do perdigueiro português se mantêm, além de termos de admitir a extraordinária dificuldade de esculpir o calcário de forma fidedigna. A cabeça é a de um perdigueiro actual, apenas há que realçar o facto de o crânio ser algo aplanado visto de perfil e a barbela ser um pouco menor que a dos cães actuais.

No restante, estes cães, que são idênticos entre si, têm a característica comum de um peito “em tonel”, que caracterizou alguns perdigueiros antigos e o facto (a realçar) de o braço ser mais saliente e com um ombro mais fechado que os actuais cães.

Fora estes “pormenores” trata-se de dois exemplares de perdigueiro nacional típicos, só que a caminho dos 300 anos...

Foram cães contemporâneos destes que do Norte de Portugal foram levados para Inglaterra dando origem, anos depois, ao célebre pointer...